O governo Bolsonaro acabou. Já há algum tempo, é verdade. Mas é que foi na última semana que a coisa passou do ponto de “não-retorno”.
O que Sergio Moro fez — e não nos enganemos, era ele o maior ativo político do governo — não foi apenas pedir demissão, mas ir ao Jornal Nacional oferecer uma delação premiada para o Jornal Nacional com uma lista de crimes de responsabilidade do Presidente da República, nomeadamente a tentativa do Presidente de transformar a Polícia Federal numa espécie de Gestapo pessoal para proteção dos crimes dos seus filhos. Assim, o agora ex-Ministro também descortinou o caminho para o impeachment do Presidente, cuja petição teve seus elementos quase que explicados pelo ex-Juiz em entrevista coletiva (sem falarmos nos demais pedidos, já escritos e protocolados, junto à Câmara dos Deputados).
Enquanto a casa cai em Brasília, é bom lembrarmos que hoje o coronavírus novamente matou centenas de pessoas. Ontem, centenas mais. Em Manaus, por exemplo, as autoridades têm sido obrigadas a contratar containeres refrigerados para carregar corpos. O Ministo da Saúde, porém, está foragido do debate público. Tendo assumido completamente perdido, Nelson Teich ainda não conseguiu montar uma equipe sua e encontra dificuldades para começar a trabalhar de verdade, perdendo tempo que custa vidas. Não bastasse a letargia operacional, o Minitro foi ainda proibido pelo Presidente de dar entrevistas ou demais satisfações ao povo sobre as providências do governo no combate à pandemia.
Justiça seja feita, ele até apareceu essa semana em entrevista coletiva, não tanto como Ministro da Saúde quanto como Ministro da Saúde Financeira: toda vez que Nelson Teich abre a boca é para problematizar, não o enfrentamento ao coronavírus, mas a crise econômica que a pandemia vai causar, como se isso fosse culpa de alguém que não seu chefe, o Presidente da República.
Afina, é bom lembrarmos, ainda que isto nos obrigue a chover no molhado. Aquele Auxílio Emergencial aprovado pelo Congresso Nacional para os mais vulneráveis, no valor de 600 reais só chegou ao bolso de poquíssima gente até agora. E é pequena a chance de que caia para todos os que lhe fazem jus antes de meados de maio.
Nas próximas semanas vamos assistir ao desembarque de outros Ministros essenciais à viabilidade política do governo. Paulo Guedes limpará suas gavetas em seu Ministério da Economia muito em breve. Para ele, o cenário é inclusive desejável: não é de hoje que Guedes se encotnra isolado, ao ponto de sequer ter sido informado, muito menos convidado, para o evento de apresentação do Plano Pró-Brasil — Plano Econômico de combate à pandemia feito sem o Ministério da Economia.
O Plano aliás, feito pelos Generais, não chega a ser bem um plano econômico, embora queira ser tratado como tal. Não é mais do que um PowerPoint de 7 (sete) slides — incluindo a capa — com vários desenhos que são mais é para mostrar serviço, mas sem nenhum dado relevante, nenhum planejamento e nenhum plano de ação concreta.
Tereza Cristina, Ministra da Agricultura e elo político do Governo com setores importantes do agronegócio brasileiro também planeja sua saída para as próximas semanas. Nesse passo, o Governo e, pior, a sociedade brasileira vai desperdiçando tempo e sua energia preciosos com os vários jeitos com que o Presidente resolve prejudicar o país. A pauta deveria ser a ampliação de leitos de UTI, a estruturação urgente de um sistema nacional de testagem em massa para o novo coronavírus e outras agendas prioritárias.
É por isso que o impeachment ou a renúncia desse governo é tão importante. Porque o Brasil não pode mais se dar ao luxo de perder tempo com as respostas erradas.
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